As sementes do mundo são espalhadas pela bondade dos seres vivos, dos bichos, dos ventos, da água… Existem sementes que são filhas do rio, que dependem da água para se espalhar sobre a Terra. Existem sementes que são filhas do vento, que precisam do vento para se espalhar sobre a Terra. Existem sementes que precisam dos animais para se espalhar pela Terra. E entre esse plantar e esse não plantar, entre estar no mundo e a gente olhar, a gente precisa só entender que nós também somos filhos dos ventos, dos rios e dos animais… Andamos pela Terra e precisamos plantar sementes como os bichos, os rios e os ventos. As árvores, elas têm uma mãe: ou é o animal, ou é a água ou é o vento… E nós, o que nós estamos plantando hoje? Que semente estamos espalhando pelo mundo? A gente tem de entender que as sementes somos nós também e que, por mais que não estejamos plantados na Terra e que tenhamos pés para nos locomover, podemos entender que toda essa dimensão de amor e de afeto continua a resplandecer entre a luz e o escurecer. Também somos sementes, filhas do Universo assim como os rios, os ventos, as árvores. E assim como tudo o que existe, é preciso entender que nós precisamos povoar a Terra de amor, de paz, de natureza, de flores, de árvores e de esperança, porque só assim nós poderemos nos salvar, sementes humanas.
Eu sou Kowawa Kapukaia Apurinã. E eu estou aqui no meio dessa floresta, falando com esses bichos que me chamaram aqui para dizer para vocês que nós também somos sementes.
Kowawa Kapukaja Apurinã
Indígena da etnia Apurinã do Médio Purus, Sul do Amazonas. Doutoranda em Antropologia nas Universidade Federal Fluminense e Université Paris 3 Sorbonne Nouvelle. Mestra em Antropologia e graduada em Direito e em Artes Visuais. Ativista, atua principalmente na educação indígena, educação ambiental, questões raciais, ações afirmativas, mulheres indígenas, violências e ancestralidade indígena. Membra fundadora do Instituto Pupykary do Povo Apurinã, cofundadora da Articulação Brasileira de Indígenas Antropológes, do coletivo Artivismo Indígena e colaboradora do veículo de jornalismo independente Portal Catarinas. Atualmente, desenvolve pesquisa com o Povo Tupinambá, em Acuipe, Olivença, nas áreas de Retomadas no Sul da Bahia – Brasil.